Andei meio sumida na última semana, né? Vocês sabem como é final de ano: mil encontros, festas, compromissos familiares… e também muita reflexão e pausas para pensar em tudo o que aconteceu durante o ano. E que ano, né? 2013 certamente foi um ano muito intenso pra mim!
Comecei o ano na minha vidinha normal: trabalhando em um escritório de arquitetura, finalizando o semestre atrasado por causa da greve de 2012 (fomos até o meio de janeiro com aulas e entregas de projeto!), saindo quando dava, fazendo festa. Meus 25 anos foram uma delícia, tudo o que os meus 24 não foram – em 2011, diagnóstico, quimio, radio, enfim. Um ano atrás, nessa mesma época, lembro de pensar que 2012 havia sido o ano mais feliz da minha vida, o ano mais pleno, mais saboroso. Minhas expectativas para 2013 eram altíssimas, como vocês podem imaginar.
Dia 21 de fevereiro tinha uma tomografia de controle marcada. Nada demais, já que meus últimos dois exames não apontavam sinal de nenhuma célula tumoral. Fui tranquila fazer, voltei pra casa, descansei e de noite peguei um avião rumo ao Rio de Janeiro. Faltando 8 dias pro meu aniversário de 26 anos, comemorá-lo no Rio parecia uma ótima ideia, né?

Foram ótimos dias no Rio, cercada de amigos, comidinhas, festas, praia… Lá, descobri que Rio de Janeiro e eu fazemos aniversário juntos, o que foi uma feliz coincidência! Comemoramos, e dia 2 de manhã voltei pra Porto Alegre. Era sábado e vários amigos da faculdade estavam colando grau, então voltei para a formatura. O final de semana do meu aniversário foi maravilhoso, cheio de comemorações!
Segunda-feira de manhã, fui buscar o resultado daquela tomografia de controle que havia feito antes de ir para o Rio. Como os últimos exames haviam sido ótimos, e eu estava me sentindo super bem, abri a pasta do laudo bem tranquila. Cabeça e pescoço bla bla bla, tudo certo! Pelve bla bla bla, tudo certo! Tórax bla bla bla, mediastino, bla bla bla, possível recidiva.
Possível recidiva?!
Liguei imediatamente pro meu oncologista, e em menos de vinte minutos nos encontramos no saguão do hospital. Ele me tranquilizou, disse que essas dúvidas surgem em alguns exames, mas que provavelmente não era nada. Combinamos que eu faria um exame um pouco mais detalhado, que nos daria certeza do que estava acontecendo. Dois dias depois, lá estava eu fazendo mais um PET-CT.
No mesmo dia, meu médico me ligou pra dizer que o laudo parcial apontava uma inflamação, mas que isso provavelmente não era nada. Fiquei tranquila e aproveitei o final de semana. Na quarta-feira seguinte, estava almoçando com meu pai quando meu médico me ligou. Disse que o pessoal do laudo havia telefonado, e que eles suspeitavam que aquela mancha no tórax fosse mesmo uma recidiva do linfoma que eu havia tido em 2011. Combinamos que eu iria no consultório no dia seguinte, para conversarmos melhor. Disfarcei a conversa, falei pro meu pai que não era nada demais. Inventei uma desculpa e voltei pra casa, sozinha. No caminho, sentia minhas pernas tremendo, o corpo fraquejando. Abri a porta de casa, me joguei no chão e fiquei ali, chorando de soluçar, que nem criança. Isso não pode estar acontecendo, isso não está acontecendo!!! Nunca quis tanto que meu despertador tocasse!!!!!
Mas não era sonho, era um pesadelo bem real. Pra mim, nada daquilo fazia sentido. Meu caso sempre foi tratado como “fácil, um dos linfomas mais curáveis”, fiz 20 sessões de radioterapia que eram consideradas um tratamento extra, pra garantir que o tumor havia sido aniquilado. E ele realmente foi, mas algo novo surgiu naquele lugar. Algo inesperado e indesejado.
Enfim, pra encurtar a história: fiquei de março a maio investigando, indo a diversos médicos. Mudei radicalmente minha alimentação, fiz cirurgia espiritual, comecei a meditar. Queria conseguir conversar com meu corpo, entender porquê ele estava fazendo isso comigo. Decidimos, então fazer a biopsia no começo de maio. Por que não fizemos antes? Porque o tumor estava em uma região bem difícil de alcançar – entre o osso esterno e o coração, bem no timo. Havia alguns riscos na cirurgia, mas eu sabia que só tendo o resultado da biopsia eu aceitaria – ou não – fazer o tratamento.
No meio disso tudo, havia um TCC acontecendo, um projeto que dependia totalmente de mim. Meu TCC era a única coisa que me ligava à minha vida antiga, ao meu eu pré “possível recidiva”. Apesar de saber que minha saúde era minha prioridade, tentar seguir com o projeto era também fundamental para tentar manter algum controle sobre o que estava acontecendo.

Bem, a biopsia veio, e com ela a certeza de que o linfoma de hodgkin havia voltado. Apesar de o tumor ter ficado quase três meses sem crescer significativamente, o filha da puta tampouco regredia. Tentei convencer os médicos a me deixarem terminar o projeto, participar da cerimônia de formatura (em setembro) e aí sim, fazer a quimioterapia e o transplante de medula. Não preciso nem dizer que fui voto vencido, né? Dia 3 de junho comecei a quimio.
O resto vocês sabem.










O blog me trouxe o prazer de dividir o que eu sei sobre o câncer e como lidar com ele, e receber de volta o carinho das pessoas, as mensagens lindas agradecendo pela ajuda. Tenho conhecido muita gente através desse trabalho, me sinto muito conectada a todos os que de alguma forma participam ou interagem com o Além do Cabelo. Os projetos pra 2014 estão borbulhando, muitos deles serão divulgados ainda no primeiro trimestre!
Vendo essa retrospectiva, alguém pode pensar de 2013 não foi um ano bom pra mim. Eu discordo. Foi um ano difícil? Sim, fui testada de várias maneiras, tive que abrir mão de muitos planos, ir levando um dia depois do outro. Mas isso me trouxe a lugares que eu não teria chegado se não tivesse tido essa recidiva. Convenhamos, eu não largaria meu emprego de arquiteta pra começar, do zero, um blog sobre quimioterapia! Hoje, não consigo me imaginar largando o blog para trabalhar como arquiteta exclusivamente – pelo menos, não em um futuro próximo.
Foi um ano pesado?Digamos que sim. Tive muitos motivos pra largar tudo de mão e desistir, mas também fui recompensada por cada vez que pensei “vou aguentar mais um pouquinho”. Quando vi, 2013 passou e eu alcancei tudo o que queria, apesar dos pesares. Comecei o ano sendo uma estudante de arquitetura, e vou terminá-lo sendo arquiteta e urbanista, blogueira e transplantada. Quantas arquitetas e urbanistas, blogueiras e transplantadas você conhece? Aposto que somos poucas!
Por isso, apesar de desejar muito que 2014 seja um ano mais leve, preciso fechar esse post dizendo: OBRIGADA, 2013.
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Flavinha, tuas palavras sempre me inspiram e me emocionam. É isso aí, 2013 foi um ano cheio de conquistas e 2014 será cheio de vitórias! És linda e muito guerreira! Bj grande!
Flávia, leio teu blog há um tempo, mas nunca tinha comentado aqui. Criei uma conexão especial com ele, pois também tive Linfoma de Hodgkin e me identifico com tudo que tu escreves. Comento hoje só pra dizer: Guria, tu é guerreira! Admiro muito a forma como tu encaras a vida e as adversidades que fazem parte dela. Quando recebi meu diagnóstico, tentei lidar da mesma maneira, e tenho certeza que isso me ajudou muito a me curar e me manter saudável desde então. Espero que teu 2014 seja mesmo mais leve e que tu sejas sempre muito feliz! Beijos
Fico sem palavras qdo leio o que escreves…. é emocionante te acompanhar….. um grande beijo e um grande 2014!
parabéns adorei a iniciativa e o entusiasmo nas fotos,força na superação