“Doutor, quais são minhas chances de cura?”
Essa é, sem sombra de dúvida, uma das perguntas mais cruéis que se pode fazer para um médico. E, talvez, uma das mais difíceis de se receber a resposta. Cruel, porque dessa forma damos ao profissional da saúde a responsabilidade de nos dizer algo que, invariavelmente, será ouvido como uma promessa ou uma sentença.
Estatísticas são excelentes termômetros para médicos e pesquisadores, que necessitam de seus dados. É com as estatísticas que se verifica a eficácia de um tratamento, a probabilidade de uma doença recidivar, as chances de algo ocorrer. Estatísticas são ótimas aliadas para as cientistas e equipes médicas. E ponto.

Para nós, pacientes, as estatísticas podem ser perigosas. Eu explico: se você ler que tem 5% de chances de cura, certamente será tomado por uma desesperança, já que suas chances são baixas, certo? Em compensação, se você souber que tem 95% de chances de cura, pode menosprezar a gravidade de sua doença e achar que “nem foi tanto assim”. Foi o que eu fiz em meu primeiro diagnóstico – eu achava que o que eu tinha não era assim tão grave se comparado a outros tipos de câncer. Quando recebi a notícia de minha recidiva, me senti traída pelo meu corpo, pelos meus médicos e pelas estatísticas. Entendi que a estatística não havia me garantido absolutamente nada além de uma ilusão.
Para as pessoas que estão vivas com 5% de possibilidade, ou para os que faleceram tendo 95% de chance de cura, o resultado da vida foi 100%. Para nós, importa apenas sim ou não. E isso, ninguém sabe prever (talvez mãe Dinah, vá lá…).
Se você quiser verificar as estatísticas (ou se lhe disseram, mesmo que sem você perguntar) lembre-se que, quando estamos falando da nossa vida, as estatísticas são apenas números. Nunca promessas. Nunca sentenças.