Aquela conversa ruim

Talvez um dos momentos mais difíceis logo após o diagnóstico é contar para as pessoas que você está doente. “Eu estou com câncer” não é o tipo de assunto que você gostaria de trazer para o almoço de família ou o happy hour com o pessoal da firma – mas, infelizmente, é um momento que pode acontecer.  

Você fala "tô com câncer" e a torcida desmaia!

Cada público é diferente – assim como as reações à notícia. Tem gente que começa a chorar como se tivesse caído de paraquedas no seu velório; alguns têm um ataque de riso ou solta uma frase totalmente inadequada. Algumas pessoas vão querer saber detalhes que muitas vezes nem você sabe responder, enquanto outras vão tratar como se você estivesse anunciando que quebrou uma unha. A verdade é que falar sobre câncer ainda é tabu – e é um assunto muito desconfortável para maioria das pessoas.  

Aqui vão algumas ideias sobre como contar que você está com câncer – não são regras, são dicas baseadas em minha própria experiência e em relatos que ouvi de outros pacientes. O que é melhor para você? Só você pode decidir.  

– Vá direto ao ponto 

Ok, primeiramente você vai ter que contar para alguém – provavelmente as pessoas mais próximas a você. Minha dica é: arranque esse band aid o mais rápido possível: não use meias palavras e eufemismos. “Eu estou com câncer” vai direto ao ponto – e passa a mensagem clara e real. Digo isso porque, se você usar expressões como “descobriram um tumor” pode dar margem a frases de apoio que não vão, de fato, te trazer algum conforto. A pessoa pode querer te convencer de que não vai ser nada, de que os médicos podem estar errados, te dizer que a tia da prima da amiga da filha teve “um tumor” e curou tomando antibiótico. Não é por mal – todo mundo gostaria que essa notícia fosse apenas uma pegadinha.  

   

Tem quem tente fingir que nem doeu

– Escolha para quem contar  

Esse é um ponto polêmico entre os pacientes. Algumas pessoas preferem contar apenas para os muito íntimos – outras, não veem problema em espalhar aos quatro ventos pelo que está passando. Eu sou do segundo grupo – tanto que, quando descobri que estava em recidiva, resolvi criar um blog para dividir minha experiência. Não existe certo ou errado, cada um sabe de si.  

Mas aqui vai uma dica: mesmo que você queira manter sua privacidade, é fundamental que pessoas importantes saibam. Por exemplo, alguém do seu ambiente de trabalho precisa estar a par, caso você tenha alguma intercorrência durante o expediente. Isso porque o paciente oncológico necessita de cuidados especiais em caso de atendimento médico. E não se esqueça: câncer não é vergonha! Você tem todo direito de manter sua privacidade, mas não se torture tentando esconder o que está acontecendo. Lembre-se que todos precisamos de ajuda, especialmente nos momentos difíceis. E sua prioridade deve ser a sua saúde – física e mental.     

– Tenha um porta-voz oficial 

O tratamento do câncer é cheio de reviravoltas e novidades. A quimioterapia que era hoje passou para semana que vem, o médico decidiu suspender a radioterapia, semana passada você amava creme de ervilha, mas agora só de olhar você já fica com náuseas. Se para nós, que estamos vivendo a situação toda, já é confuso, imagina para quem observa de fora! Contar pessoalmente para todo mundo essas mudanças pode ser exaustivo, ainda mais quando não são boas notícias. Por isso, eleja um porta-voz oficial: pode ser seu par, mãe, irmão, tia. Uma pessoa que tenha acesso aos seus círculos de convivência e, principalmente, que você confie e se mostre disponível para isso. Ela ficará encarregada de dar as notícias às pessoas certas, atender seu celular quando você não estiver a fim de falar e agendar visitas e responder todas as perguntas chatas e desgastantes. 

– Como contar para as crianças  

Essa é uma questão delicada e muito pessoal. Dependendo da idade da criança, ela pode ter algum discernimento sobre o que está acontecendo, mas toda criança, em qualquer faixa etária, é bastante perceptiva e sabe que algo novo está se passando. Cada família tem uma dinâmica – algumas preferem que as crianças não sejam incluídas nas conversas sérias; outras, falam sobre detalhes. O importante é você refletir sobre qual a melhor maneira de trazer o assunto câncer para os pequenos. 

É essencial analisar a maturidade da criança, para adequar o vocabulário de modo que a informação seja entendida. Não tente esconder a situação – mudanças na rotina irão acontecer, e é fundamental que a criança entenda, do seu jeito, o que está acontecendo. Não dê tão pouca informação a ponto de a criança ficar excluída ou desconfiada – nem dê tanta informação que a deixe tonta. Se você estiver em dúvida sobre como agir, conte apenas que você irá fazer um tratamento, e deixe a criança à vontade para fazer perguntas posteriormente.   

E você? Como fez para ter essa “conversa ruim”? Escreva aqui nos comentários, vou adorar ler! 

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